Será possível escolhermos o que desejamos?
E se for possível, será que escolhemos o que desejamos?
Enfim, quando fazemos uma escolha o que é que escolhemos mesmo?
É muito normal vermos pessoas que durante anos em sua vida perseguiram algo, certas de que aquilo era o que desejavam, e que logo após, mais tempo ou menos tempo, estavam insatisfeitas com o que obtiveram, julgaram-se enganadas, equivocadas e passaram a perseguir nova coisa, que esta sim as mobilizavam e lhes traria satisfação. Para novamente tudo se repetir. Que tristeza. Que infelicidade!
É mais simples verificar isto quando se observa crianças. Elas brincam muito com o brinquedo recém adquirido e depois deixam-no de lado, descuidam dele, abandonam-no à destruição (para horror dos pais), deixando claro que já não encontram nele qualquer satisfação. E isto não é imaturidade não! Não é coisa de criança não! Todos somos assim.
Se pensarmos que a coisa (chamamos de coisa tudo aquilo que representa concretamente o que desejamos, não importando se é “conhecimento”, “objeto”, “entretenimento” ou “pessoa”) obtida é a que imaginávamos desejar, somos obrigados a nos perguntar: por que logo após ficamos insatisfeitos? Temos que levantar hipóteses: a) Encontrei o que parecia ser o que desejava, mas foi um engano, necessito continuar a busca; b) Há um prazo de validade no qual a coisa é eficiente e depois anula-se, não mais funciona; c) A gente se engana sempre; d) Nada é o que procuramos; e) Precisamos acertar sempre nosso desejo naquilo que obtivemos; f) As pessoas mudam muito e deixam de ser o que eram inicialmente; g) Necessitamos de um modelo, método ou sistema para sabermos escolher e mantermos nossas escolhas. Enfim é necessário pensar o que se passará no futuro com a nossa escolha atual.
O que desejamos?
A coisa desejada talvez seja sempre desconhecida. Talvez caminhamos no escuro com uma vaga noção do que queremos. Nossa escolha pode ser sempre no escuro, o tempo acende as luzes, clareia nosso ambiente e descobrimos que isto que temos não é aquilo o que desejávamos. Não é possível fazer afirmações como esta sem perguntarmos e insistirmos na resposta: o que desejamos? Por exemplo, todos nós depois da adolescência começamos uma busca incansável de alguém que seja o nosso par, nossa cara-metade, nossa alma gêmea. A maioria das pessoas conhece a partir desta data um grande número de possíveis pares. São candidatos e candidatas excelentes. Temos lá umas listas de exigências. Parte desta lista é-nos bem conhecida.
Por exemplo, procuramos uma loira e dispensamos as morenas. Procuramos uma obesa, gordinha, e dispensamos as magrinhas. As carinhosas sim, as bravinhas não. As independentes sim, as submissas não. E assim por diante. Algumas mulheres exigem altura mínima para os homens, outras querem independência financeira. O que vale a pena observar é que esta lista ou outras listas “conhecidas” não são as únicas listas. As pessoas tem também listas de ítens desconhecidos. Ou seja, há exigências inconscientes, não nos damos conta, não as percebemos claramente, mas são ítens fortes, poderosos, capazes de mudar o rumo das coisas. Parece uma traição feita pela própria natureza humana conosco. De fato, quando Freud sistematiza o conhecimento sobre o inconsciente, este é vivenciado por todos como um golpe. “Como pode existir algo em nós, que nos é desconhecido, mas que ao mesmo tempo pode estar determinando o que somos, o que escolhemos, o que acertamos, o que erramos?”
Apesar da indignação o inconsciente existe e é poderoso.
Então, o que desejamos é inconsciente? Uma parte sim e talvez esta parte seja determinante. Outra parte não e é por ela que nos guiamos. Isto é muito psicanalítico.
Existencialistas, psicólogos e filósofos acreditam que 90% de nosso psiquismo é consciente e que nossas escolhas partem daí.
Mas, vejam-só: ensinam-nos estes existencialistas que a característica principal do homem é a angústia, o que equivale a dizer que nenhuma de nossas escolhas nos agradará definitivamente e mal a tenhamos feito já experimentaremos a angústia, a necessidade de nova escolha e assim indefinida e eternamente. Esta teoria é muito bem aproveitada pelos marqueteiros de plantão que vendem um produto igual com um detalhe novo para o mesmo consumidor, e o fazem eticamente a todo instante.
Trazendo isto para o campo dos relacionamentos, já ouvi de muitos e muitas clientes que as melhores possibilidades de relacionamento surgem quando já se tem um e que quando se está “só” não aparece nada de bom. Se analizassem bem veriam que o principal está naquilo que já se tem e na novidade apenas um plus , um complemento. Muitos homens e mulheres quando buscam amantes ou qualquer tipo de relacionamento extra-conjugal fazem o mesmo.
Encontram um complemento, um detalhe que falta em seu par e se encantam com isto. São apenas um perfume, não são uma escolha completa. Por isto mesmo 75% dos relacionamentos extra-conjugais terminam em menos de 1 ano de vida exclusiva do novo par. Após a separação conjugal, o novo casal recém formado não tem base para se sustentarem e em menos de 1 ano também se separam.
Um presidente de empresa amou (foi amante) de sua secretária por 25 anos, com quem fazia todas as suas viagens internacionais enquanto sua esposa lamentava ficar sem ele em casa e muitas vezes implorava-lhe para que a levasse. Filhos criados, separou-se de sua esposa e foi viver com a secretária. Em sua próxima viagem internacional, exigiu que a esposa-secretária ficasse em casa e ele viajaria sozinho. Brigaram. Menos de 1 ano e se separaram.
Mal se faz uma escolha, ja se experimenta a angústia. Será que os existencialistas estão certos? Será que Freud estava certo?
Um discípulo de Freud, Otto Rank, argumentou que após o nascimento, tudo o que fazemos é tentar recuperar a vida intra-uterina. Segundo ele naquele período de nossa vida vivíamos uma plenitude: temperatura estável, sem pressão gravitacional, alimentação arterial sem funcionamento do aparelho digestivo (comer, digerir e defecar é desgastante), sem funcionamento dos pulmões (respirar é cansativo). Ao nascer temos nossa primeira experiência desagradável: passar por um tubo estreito (as vezes é necessário o uso de forceps no parto), descobrir a pressão da gravidade, consumir grande energia para o funcionamento pulmonar, regular a temperatura corporal, alimentar pela boca, etc. Para ele apenas a volta à vida intra-uterina, ou a terapia de renascimento seriam capazes de por fim à existência neurótica, à insatisfação. Isto quer dizer que não há nenhuma escolha, nem a do nosso querido par, que nos deixe satisfeitos!
Par Perfeito
Se você acompanhou nosso raciocínio deve estar pensando que não acreditamos na possibilidade de alguém fazer uma escolha conjugal certa, correta, duradoura, satisfatória. Deve estar achando isto um absurdo, pois conhece certamente um infinito numero de casais que vivem a vida inteira juntos, felizes. Então o que será que eles fizeram, como é que acertaram? Eles tem uma receita secreta?
Os critérios para a escolha conjugal são culturais e temporais. Significa que algumas culturas estabelecem seus próprios critérios sobre quem pode se relacionar com quem e principalmente como pode se relacionar. Estabelecem o que é permitido e o que é proibido. Depois disto os critérios culturais estabelecidos se sobrepõem aos pessoais e cada um deve segui-los para fazer uma escolha aprovável. Escolhas heterodoxas são normalmente rejeitadas pelo grupo cultural e consideradas fracasso pessoal. A sociedade, a cultura se defende criticando a escolha heterodoxa, pessoal, particular, fora dos critérios do grupo. Isto entretanto não é definitivo. As imposições pessoais terminam por fazer pressões transformadoras no grupo/sociedade/cultura e estes adaptam e readaptam seus critérios.
Por exemplo, a sociedade brasileira, em São Paulo, fortemente influenciada pela mídia, principalmente pela TV, tem insistido na supremacia do critério particular. Incentiva que cada um escolha o que quiser, como quiser, quando quiser, o par que quiser. As pessoas escolhem assim.
Dentro desta sociedade existem sub grupos que seguem outras influências. Os orientais tem seus critérios, os religiosos também tem os seus conforme cada religião.
Então se alguém que quer evitar o erro decidir procurar o melhor critério o que deverá fazer?
Se você ainda se lembra do que escrevemos antes deverá pensar que não há o que fazer, mas se mesmo assim quer diminuir seus riscos, o que deverá fazer?
As pessoas não se mostram como são realmente. Mostram aquilo que pensam que são. Na verdade mostram o que é o melhor daquilo que pensam que são e só com o passar do tempo vão mostrando também aquilo que não é tão bom. Há o que é inconsciente, ou seja há aquilo que as pessoas são e nem elas sabem que o são. Esta parte ela não consegue mostrar ou esconder, funciona independemente.
Quanto tempo voce necessitará para conhecer alguém suficientemente e para se deixar ser conhecido suficientemente por alguém para que sua escolha e a escolha que a outra pessoa fará de você seja algo realmente seguro dependerá de quem é você e de quem é o outro. É muito pessoal. O tempo de cada um é pessoal. Mas é possível fazer algumas sugestões: é necessário muito tempo, muita convivência, muitas experiências a dois para que o casal faça uma escolha confiável. É importante conhecer várias pessoas. Talvez já exista alguém prontinho com tudo o que você deseja sem ter que fazer mudanças e adaptações te esperando. Se a pessoa que você conheceu não te satisfizer, valerá a pena mudar, conhecer outra.
Existe alguém que é do seu número certo, sob medida.
Não vale a pena se desesperar, nem ficar com a primeira que conheceu. A troca é mais saudável do que a insistência em mudanças adaptativas. Namorar muitas pessoas pode permitir o encontro com a pessoa certa. Depois de encontrá-la lembre-se de todas as dificuldades e esteja disposto às adaptações. Mas em momento nenhum se engane com o amor. O amor te cega os olhos, te cega a inteligência e te leva aos absurdos. Passada a loucura do amor, só depois de passada a loucura do amor é que você deve confiar em suas observações e avaliações. Não falo aqui do amor calmo e comedido, mas da loucura do amor, aquilo que é chamado de paixão, aquilo que te faz pensar que sem seu amor a vida não tem sentido. Este sentimento te emburrece, é passageiro e deve-se aguardá-lo passar. Aí então confie em si, em sua avaliação e se te parecer que é melhor ficar com esta pessoa mesmo, já que é difícil encontrar alguém melhor, não se engane, você está diante da pessoa errada, continue procurando.
Você não imagina o quanto dói, quanto sofrimento traz a separação de casados. Se não é o par certo é melhor separar agora, durante o namoro. Dói menos e te prepara, te dá experiência para a escolha certa.
Boa sorte!
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