Diferentes sentimentos: Amor e Paixão
Acredito que existam pessoas sérias buscando encontrar pessoas sérias, mas essa seriedade me parece atualmente um tanto relativa. O momento atual trás consigo a instabilidade de valores. Para alguns ser sério é ser fiel, para outros é ser companheiro, para outros é preservar a relação como um porto seguro. Vejo muito mais desencontros do que encontros. Essa busca desenfreada por um companheiro por vezes valoriza o preenchimento da solidão: “ter alguém para chamar de meu” e não ter alguém para amar.
Essa busca promove nas pessoas um acreditar que só poderão ser felizes se tiverem um companheiro. Faz parte, da natureza humana procriar e esse ato requer “naturalmente” um parceiro. Para que tenhamos vida é necessário, portanto a união física de um homem e uma mulher. Nesse momento de inicio de vida dentro do útero estamos unidos, amparados e aconchegados a uma mulher. Ao nascermos tudo se modifica, estamos sozinhos e desamparados. Como bem cita o Dr. Flavio Givokate, essa sensação de desamparo nos acompanha durante nossa existência. Buscamos encontrar em um parceiro esse preenchimento do vazio que sentimos, e com isso o sentimento de solidão nos aterroriza. Assim, a felicidade é depositada apenas na vida acompanhada, sendo o outro o único responsável pela felicidade em questão. O ser humano é só por natureza, nunca consegue se misturar no outro, por mais que acredite estar acompanhado. Mas, em contrapartida também é um ser relacional, precisa do outro para sua própria referencia de existir como tal. Tanto no social quanto no pessoal pessoa necessita de pessoas.
No geral, quando alguém começa a se envolver romanticamente com outra pessoa, o parceiro é visto como alguém perfeito e a relação também. Pouco depois é comum ouvir “ele não era aquilo tudo”. Voltando à sensação de desamparo, o ideal de companheiro é criado em sonhos e fantasias. Não se busca a pessoa ideal e sim um ideal de pessoa. Com isso quando alguém começa a ser envolver com outra pessoa, o desejo idealizado começa a se manifestar, e com isso a outra pessoa não é percebida como é, e sim, como criada no imaginário de quem a idealiza. A pessoa amada não é real nesse momento e sim fruto do ideal de quem ama. Com o passar da euforia sentimental inicial, a pessoa começa a perceber que o companheiro não condiz com aquilo que imaginava e por vezes acaba apenas culpando o outro pela frustração que sente nesse momento. Ideal é ideal, e jamais será alcançado, uma vez que faz parte apenas do mundo perfeito, do imaginário de quem o idealiza.
Mas, também não se pode deixar de mencionar o fato de que quando se conhece alguém por vezes se quer mostrar o “melhor”, quem nem sempre é compatível com a personalidade da pessoa. Exemplificando: a mulher que detesta futebol, mas no momento da paixão assiste aos jogos e até acaba torcendo pelo time do companheiro, mas tempos depois briga e não aceita mais; o homem que não suporta teatro, mas acompanha a mulher e após a fase do encantamento não suporta nem mesmo a sugestão de ir ao teatro. O melhor seria ser a pessoa mesmo, com defeitos e qualidades sem interpretações, uma vez que na vida real ninguém consegue representar por muito tempo.
Cientistas afirmam que a paixão só dura dois anos, outros um pouco mais. Paixão é sinônimo de dor. A palavra é utilizada para descrever um momento doloroso da historia cristã: a paixão de Cristo. É uma situação onde a pessoa vive grande oscilação entre o riso e a lagrima. Em função do aumento de substâncias neurotransmissor, como a endorfina e a serotonina que participam do controle do humor, comportamentos emocionais e ciclo do sono–vigília, a pessoa apaixonada vive uma fase de alegria e encantamento, mas frente à mínima contrariedade real ou imaginaria passa à tristeza e desilusão. Paixão cega, paixão emudece, paixão é ciúme, paixão é êxtase e paixão é dor. Muito antagonismo simultâneo. Concordo que a paixão tenha sim tempo para começar bem como tempo para terminar. Viver eternamente apaixonado dessa forma passional seria uma tortura para qualquer pessoa. Pesquisas demonstram que uma pessoa em media vive apaixonada dessa forma por dois ou três anos.
O fim da paixão pode ser um amor apaixonado, fato esse difícil de ser vivenciado. Vejo mais os conflitos uma vez que não existe um sincronismo entre os casais para o término da paixão. Primeiro ela esfria em um dos parceiros e com isso muita dor acontece. Como admitir que a pessoa pela qual se esta apaixonada não sente mais com a mesma intensidade ou não sente mais a paixão inicial. Lágrimas, pedidos, súplicas, insistência, é o que se observa quando este fato acontece.
Se comparado à paixão o amor é mais duradouro sim, mas não mais verdadeiro. No momento da paixão pode existir idealização do outro, mas o sentimento é intenso e verdadeiro mesmo que seja por uma idealização de pessoa. A pessoa pode não existir daquela maneira, mas o sentimento pela pessoa idealizada é real. A paixão acontece e o amor é construído.
Muito difícil racionalizar sentimentos, principalmente um sentimento tão intenso e perturbador como a paixão. Acredito que o amor, traga outro tipo de relação que pode ser uma união tranquila, serena, repleta de afeto, com planos, metas, sonhos, sem esquecer as dificuldades do dia a dia como contas a pagar, serviços a serem divididos, cansaço, dentre outros.
A paixão domina e o amor semeia.
A paixão acontece e o amor é construído.
Comentários